COMERCIANTE COM ALMA, COMÉRCIO COM VIDA
NO ARRUAMENTO DA GENERAL TABORDA, À PORTA DA SUA PAPELARIA, FOI ONDE MÁRIO PRATA PASSOU A MAIORIA DOS SEUS DIAS NOS ÚLTIMOS 34 ANOS. DALI ASSISTIU À VIRAGEM DO SÉCULO E À EVOLUÇÃO DOS TEMPOS. CONHECIDO POR TODOS OS MORADORES, É UMA DAS PRINCIPAIS FIGURAS DO COMÉRCIO LOCAL TRADICIONAL DE CAMPOLIDE.
Viveu de outros ofícios, mas aquele foi o que o marcou mais.
Atualmente a sua Papelaria é a única que resta naquela área
da Freguesia. Na rua mais abaixo, a tabacaria do colega também fechou. “Quando acaba uma papelaria, fecha e já não abre mais”. O seu negócio foi condenado ao mesmo destino. O novo senhorio comprou-lhe a loja que integra o prédio. Não teve opção, “vou fechar porque sou obrigado”.
Nos últimos anos, o que se vendia na loja de Mário Prata eram apenas jornais, num mundo em que o digital prevaleceu no domínio da informação. As notícias estão à distância de um clique e mais baratas do que nos jornais em papel. “Há muita gente que não lê, passa e olha para os bonecos e vai embora”, a verdade é que “não têm dinheiro”. Para o comerciante, o negócio dos jornais é o mais barato, em comparação com os jogos da sorte e a venda de tabaco. Apesar de serem esses que mantêm as papelarias vivas.
“A praça fechou, foi a morte de tudo”, fala do pequeno mercado, que se realizava ao fundo da Rua General Taborda, onde agora se encontra um parque de estacionamento. Aquela deixou de ser uma zona de passagem, mas não deixa de ter história. O seu negócio faz parte dela. Fora outrora uma chapelaria, depois foi transformada em Papelaria antes de passar para as mãos da sua esposa, em 1984, que sempre desejou dedicar-se à venda de revistas e de jornais. “Segunda reforma? Já é a quarta!”, diz o senhor de 80 anos, que por essa época deixou de ser mecânico de automóveis para se dedicar exclusivamente ao conserto de navios. Após o falecimento da esposa assumiu o negócio, quando já se encontrava no desemprego e ganhava a vida a fazer pequenos biscates.
Natural do Tarujo, a herança da papelaria foi uma ironia do destino. O pai e o irmão trabalharam na Imprensa Nacional, no corte de papel e na venda do Diário da República. À porta da Papelaria, Mário vai recebendo os moradores. Do seu lado direito está uma pequena mesa onde tem meia dúzia de jornais do Correio da Manhã e dois ou três exemplares do Público e o Diário de Notícias. O número de jornais que vende é aproximadamente esse. “Cheguei a vender uma média de 60 por dia, agora por vezes, nem chega a dez”.
Mal vê um cliente agarra no jornal que habitualmente compra e por entre dois dedos de conversa faz o troco. Nos últimos dias, o tema principal é o fecho da sua Papelaria. Lá dentro, as prateleiras estão desarrumadas, as mais altas esvaziadas, outras têm diversos artigos, papéis, revistas de coleção cobertas de pó, ainda dos anos 2000. O tempo roubou a alma daquela casa, onde Mário serviu os moradores em informação, entretenimento e amizade. NC
DIA DE BAILARICO E CELEBRAÇÃO DA VIDA
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